Ator sensível, emocional, dono de uma beleza melancólica. Olhos
grandes, bonitos e carentes. O talentoso MONTGOMERY CLIFT (1920 - 1966) marcou
uma época. Fazia parte dos atores rebeldes de Hollywood, adeptos do método
Stanislavsky. Marlon Brando, James Dean, Paul Newman e ele lançaram uma nova
identidade masculina cinematográfica, representada por heróis vulneráveis,
frágeis e ambíguos. Um acidente automobilístico no auge de sua carreira
desfigurou o seu rosto, levando-o a beber e se drogar até a morte precoce aos
45 anos de idade, numa trajetória de vida tão trágica como alguns de seus
filmes.
Educado em uma família de classe média alta como aristocrata, aos
quinze anos trocou os estudos pela Broadway. Entre sucessos e fracassos, a
carreira nos palcos seguiu-se até 1945, e o tornou um nome respeitável na nova
geração de atores. Durante uma excursão com a peça “There Shall Be No Night”,
em 1941, Louis B. Mayer lhe ofereceu um papel em “Rosa da Esperança / Mrs.
Miniver”. Pensou em aceitar a oferta, mas o produtor insistiu no contrato-padrão
de sete anos e ele não queria abrir mão da ribalta.
Sete anos depois MONTGOMERY CLIFT estreou, aos 28 anos, num
western de Howard Hawks protagonizado por John Wayne, o deslumbrante “Rio
Vermelho”. Nele, interpreta o impetuoso Matthew Garth. Nos bastidores, teve um
caso apaixonado com John Ireland, e em cena deixaram perceber essa cumplicidade
amorosa. Fez a seguir, “Perdidos na Tormenta / The Search” (1948), um drama
esquecido, mas elogiado na época, resultando em sua primeira indicação ao Oscar
de Melhor Ator. Filmado na Alemanha e Suíça, vive um engenheiro militar,
Ralph Stevenson, que encontra um menor abandonado, faminto e andrajoso pelas ruas
da Berlim pós-guerra, a quem socorre, leva para casa e passa a tratar como
filho.
Com o sucesso, rodou
“Tarde Demais”, no papel de um caça-dotes que se envolve com uma rica e
reprimida herdeira, Olivia de Havilland, na adaptação do romance de Henry
James. Recusou “Crepúsculo dos Deuses
/ Sunset Boulevard” (1950) em cima do início das filmagens - um papel
que Billy Wilder e Charles Brackett escreveram especialmente para ele. Voltou às
telas em “Um Lugar ao Sol”, considerado por Charlie Chaplin “o melhor filme
feito em Hollywood” e baseado na obra-prima de Theodore Dreiser – filmada em
1931 por Josef Von Sternberg, com Sylvia Sidney, Phillip Holmes e Frances Dee.
Na pele do alpinista social George Eastman, concorreu outra vez ao Oscar,
perdendo desta vez para Humphrey Bogart. Durante as filmagens, ele e Elizabeth
Taylor se tornaram amigos íntimos.
Sua parceria com Alfred Hitchcock em “A Tortura da Suspeita” resultou
em fracasso de crítica e bilheteria. É um bom filme e a atuação de
MONTGOMERY CLIFT densa, como um padre angustiado, vítima da confissão. No
sensacional “A Um Passo da Eternidade”, o seu soldado Robert E. Lee Prewitt, corneteiro
e boxeador, inicialmente estava destinado para John Derek ou Aldo Ray. O
contundente drama fez muito sucesso, tornando-se o campeão dos prêmios da
Academia, em 1953, com oito Oscars. Em “Quando a Mulher Erra / Stazione
Termini” (1953), ao lado da sensacional Jennifer Jones, ele enfrentou filmagens
difíceis. O tirano produtor David O. Selznick interferiu na direção de Vittorio
De Sica, que tinha outra visão da história, e o resultado não agradou a ninguém
(eu gostei, sou suspeito, gosto de qualquer filme com Jennifer Jones ou
dirigido por De Sica).
Convidado para “Vidas Amargas
/ East of Eden” (1955), preferiu trabalhar com Liz Taylor na enfadonha superprodução
“A Árvore da Vida / Raintree County” (1957). Durante as filmagens, a atriz deu
uma reunião festiva em sua mansão. MONTGOMERY CLIFT ficou bêbado
e na volta da festa se descontrolou, batendo o carro em um poste de rede telefônica.
Kevin McCarthy, que também estava na festa, foi o primeiro a vê-lo: “Seu rosto
era uma massa de sangue. Eu pensei que estivesse morto”. Aterrorizado, correu
para avisar Liz. Assim que o tiraram das ferragens, ela o colocou em seu colo,
enquanto esperavam a ambulância, retirando dois dentes soltos enfiados na
garganta dele que o ameaçavam de engasgamento.
O acidente arruinou o rosto formoso de Monty. O nariz quebrado,
esmagamento da cavidade óssea, maxilar destruído, três dentes frontais perdidos
e lacerações no lado esquerdo da face. Durante meses, ele passou por inúmeras
cirurgias. A reconstrução facial, o uso de analgésicos pesados e o abuso
desenfreado de álcool envelheceram rapidamente o ator. Nunca mais foi
o mesmo, transformando-se num homem amargurado e triste. Sentia dores terríveis
e a face perdeu os movimentos. Assim começou o que foi chamado de o “suicídio
mais longo da história de Hollywood”. Elizabeth Taylor protegeu o seu amigo de fé, mas em vão.
O drama foi potencializado pelo conflito que o ator tinha quanto a sua
orientação sexual e do preconceito que sofria entre os seus pares. Para fugir
desses fantasmas que o assombraram a vida inteira adotou um estilo autodestrutivo que o mataria. Segundo
alguns autores, MONTGOMERY CLIFT era homossexual. Outros argumentam que era
bissexual. Seu biógrafo Michelangelo Capua afirma que “Monty dormiu tanto com
homens como com mulheres, esperando descobrir suas próprias preferências sexuais”.
Diz ainda em “Montgomery Clift: a Biography” que a mãe dele “falou sem
problemas da homossexualidade do filho: ‘Monty se deu conta que era homossexual
muito cedo. Creio que tinha doze ou treze anos’.”
Outra biógrafo do ator, Patricia Bosworth, entrevistou a família e
muitas pessoas que o conheciam, escrevendo em seu livro “Montgomery Clift”: “Antes
do acidente, Monty tinha incontáveis romances com homens e mulheres. Encaixava
com sua personalidade ter relações desta maneira…depois do acidente e sua
dependência química, passou a ser um homem mais sério e o sexo passou a ser
menos importante para ele”. De todo modo, ele nunca foi bem resolvido
sexualmente, deixando o sexo em segundo plano e dando mais importância
aos velhos amigos, como Bill Le Massena, Maureen Stapleton, Elizabeth Taylor,
Libby Holman e Ann Lincoln.
O próximo longa-metragem do ator, lançado dois anos após o
acidente, “Os Deuses Vencidos / The Young Lions” (1958), chocou o mundo ao
revelar a face doentia do ídolo. Ele havia perdido a beleza, exibindo uma
máscara sofrida. Em Paris, filme prestes a ser rodado, ele desapareceu, atrasando as filmagens. Foi descoberto dias depois,
no sul da Itália, em um bordel masculino de terceira categoria.
Mergulhado no álcool e drogas, sua carreira parecia ter chegado ao fim. Liz Taylor, usando a influência de grande estrela, conseguiu incluí-lo no seu projeto “De Repente, No Último Verão”. Não foi fácil. Ele não conseguia atuar em cenas mais longas e esquecia as falas, provocando a fúria do diretor Joseph L. Mankiewicz, que tentou substituí-lo. Liz e Kate Hepburn ameaçaram abandonar o trabalho caso isso acontecesse.
Mergulhado no álcool e drogas, sua carreira parecia ter chegado ao fim. Liz Taylor, usando a influência de grande estrela, conseguiu incluí-lo no seu projeto “De Repente, No Último Verão”. Não foi fácil. Ele não conseguia atuar em cenas mais longas e esquecia as falas, provocando a fúria do diretor Joseph L. Mankiewicz, que tentou substituí-lo. Liz e Kate Hepburn ameaçaram abandonar o trabalho caso isso acontecesse.
O declínio continuou no maldito “Os Desajustados”, de John Huston.
Na ocasião, Marilyn Monroe declarou: “A única pessoa que conheço que está pior
do que eu”. No filme seguinte, “Freud – Além da Alma / Freud” (1962), também de
Huston, ele ia trabalhar completamente bêbado e acabou sendo processado pela
Universal Pictures. Sua condição de saúde se deteriorava ano após ano e os convites
para filmes rareavam. Tornou-se um ator pouco confiável. Chegou a dizer que sua
vida havia sido uma tormenta e que a morte seria a libertação. Liz tentou
colocá-lo em “Os Pecados de Todos Nós / Reflections in a Golden Eye” (1967). O
produtor preferiu Marlon Brando. Em 1966, MONTGOMERY CLIFT morreu dormindo,
vítima de parada cardíaca.
10 FILMES de MONTY
(por ordem de preferência)
01
Um LUGAR ao SOL
direção de George Stevens
com Elizabeth Taylor
e Shelley Winters
02
A um PASSO da ETERNIDADE
direção de Fred Zinnemann
com Burt Lancaster,
Deborah Kerr, Donna Reed,
Frank Sinatra e Ernest Borgnine
03
RIO VERMELHO
direção de Howard Hawks
com John Wayne,
Joanne Dru, Walter Brennan
e John Ireland
04
JULGAMENTO em NUREMBERG
direção de Stanley Kramer
com Spencer Tracy,
Burt Lancaster, Richard Widmark,
Marlene Dietrich,
Maximilian Schell e Judy Garland
05
TARDE DEMAIS
direção de William Wyler
com Olivia de Havilland, Ralph Richardson, Miriam Hopkins
e Mona Freeman
06
De REPENTE, no ÚLTIMO VERÃO
direção de Joseph L. Mankiewicz
com Elizabeth Taylor, Katharine Hepburn e Mercedes McCambridge
07
A TORTURA do SILÊNCIO
direção de Alfred Hitchcock
com Anne Baxter, Karl Malden e Brian Aherne
08
RIO VIOLENTO
direção de Elia Kazan
com Lee Remick e Jo Van Fleet
09
Os DESAJUSTADOS
direção de John Huston
com Clark Gable, Marilyn
Monroe, Thelma Ritter
e Eli Wallach
10
Os DEUSES VENCIDOS
direção de Edward Dmytryk
com Marlon Brando,
Dean Martin, Hope Lange,