dezembro 15, 2010

********************** SALA VIP: "O CRIADO”

sarah miles como vera



PATRÃO e EMPREGADO, JOGO ARRISCADO

Uma das vítimas do esquecimento no meio cinematográfico tem sido, sem dúvida, Joseph Losey. No entanto, não há como negar sua competência, evidente no mítico O CRIADO, um autêntico fenômeno na sua época e o primeiro da fértil colaboração entre o cineasta e o dramaturgo Harold Pinter, mestre em diálogos precisos e marcantes. Relato claustrofóbico, cinzento, trancafiado no interior de uma residência burguesa inglesa, traduz-se pela direção expressiva, complexa composição de enquadramentos (com a presença eminente de espelhos e sombras), câmera de Douglas Slocombe em permanente movimento, trilha sonora envolvente e exploração eficaz da relação entre os atores e o cenário enigmático, destacando-se a composição de Dirk Bogarde, que se consagrou como Hugh Barrett.

Todo o arsenal narrativo está a serviço de uma parábola em torno da dominação progressiva de um patrão por seu criado diabólico. O sádico servo, evidenciando esse terreno pantanoso que costumamos chamar de natureza humana, traça a destruição moral do fraco e elegante patrão, numa inversão de poder que adquire ressonâncias sexuais – desde a inclusão de Vera (excelente atuação de Sarah Miles) como a suposta irmã do criado (sendo sua amante) e instrumento do ardil amoroso, até a solução ambígua da relação entre Hugo e o patrão Tony (eficaz James Fox). Tenso e inteligente, de atmosfera lânguida e aterrorizante, não merece ser esquecido, assim como o seu diretor, que fugiu do maccartisto em sua América natal, brilhando na Inglaterra com obras como “Acidente” (1966) e “O Mensageiro” (1970). Iniciada como um retrato de costumes, O CRIADO toma um rumo no qual, ao final, o clima é de pesadelo. Trata-se de uma obra de mestre, uma narrativa sugestiva sobre a misteriosa atração entre dois personagens - amo e criado - que se absorvem mutuamente.

O CRIADO
(The Servant, 1963)

País: Inglaterra
Gênero: Drama
Duração: 111 mins.
P & B
Produção: Joseph Losey e Norman Priggen
(Springbok Production)
Direção: Joseph Losey
Roteiro: Harold Pinter
Adaptação do romance de Robin Maugham
Fotografia: Douglas Slocombe
Edição: Reginald Mills
Música: John Dankworth
Cenografia: Richard MacDonald (des. prod.); Ted Clements (d.a.);
Vestuário: Beatrice Dawson
Elenco:
Dirk Bogarde (“Hugh Barrett”), Sarah Miles (“Vera”),
Wendy Craig, James Fox (“Tony”), Catherine Lacey, 
Richard Vernon, Patrick Magee, Anne Firbank,
Doris Knox e Harold Pinter

Nota: **** (muito bom)

Prêmios:
Melhor Roteiro do Círculo dos Críticos de Cinema de Nova York
BAFTA de Ator, Fotografia e Revelação (Fox)


2 comentários:

Jenifer Torres disse...

Uma pena o descaso com que certos artistas do passado tem sido tratados em hollywood. Absurdo pra dizer o mínimo.

AnnaStesia disse...

Nossa! Adoro esse filme! Tenso, sombrio e climático! E adoro ainda mais a atuação de Dirk Bogarde!
Losey está esquecido mesmo. Dele gosto de O mensageiro (com o charmosíssimo Alan Bates), Acidente estranho e Cidadão Klein (com o maravilhoso Delon). Simpatizo também com A inglesa romântica.